Daquele que humildemente lhes fala pelos irmãos que não podem fazê-lo,
Alfredo
Hoje é 14 de dezembro de 2010, são uma e quinze da tarde. Sou uma pessoa comum e estou num carro comum passando pela ponte que liga o continente à ilha de Florianópolis. Ao meu lado, o marco turístico de uma das mais belas capitais brasileiras. À minha frente, uma fila de carros com chapas de outros estados. Acima de mim, aviões trazendo turistas internacionais. Atrás, uma estrada de 35 Km que leva a uma cidadezinha chamada Três Riachos. Eu estou voltando dessa estrada, da granja industrial que fica ao final dela. O que eu vi ali é impossível esquecer, por mais que quisesse, e é impossível deixar passar no silêncio.
Sai de manhã, passei por três agropecuárias perguntando a procedência das galinhas. Descobri a Granja Áurea. Peguei estradas rurais e cheguei em um chão pisado de terra. Não consegui contar o número de galpões, apesar de estarem bem perto, pois quando pensava que eram tantos, outros tantos apereciam atrás. O carro parou no estacionamento de entrada. Abri a porta e desci, sem nem falar com ninguém, e fui entrando.
Te atinge os ouvidos e o nariz antes que tu te dê conta. O cheiro é podre, é forte. O barulho, o baraulho não sei descrever. Um som que vem de dentro do peito, nasalado, repetitivo. Vindo de milhares, milhares e não estou exagerando, de galinhas. Elas estão presas em linhas de gaiolas que se perdem da vista, em três andares de linhas, o que significa que as da linha de cima defecam nas das linhas de baixo. As gaiolas ficam expostas ao frio, ao vento, e à chuva, com apenas um telhado alto. Cada gaiola tem dois palmos de largura e dois palmos e meio de comprimento. Cada gaiola confina cinco galinhas. É uma folha de papel A4.
Quando uma ergue uma pata ou mexe a cabeça, todas as outras precisam se mover também. Elas não tem espaço para sentar nem se virar, ficam com as cabeças enfiadas na grade mexendo compulsivamente para frente e para trás. Deitar ou descansar as pernas é inimaginável, seus pés ficam pendendo de um chão de grades de ferro lotadas de esterco endurecido. As unhas chegam a abraçar a grade, tão grandes que ficam da falta do comportamento mais natural das galinhas: ciscar.
Elas têm os bicos cortados com 13 semanas de idade numa chapa quente, para evitar que matem umas às outras. Sim, elas sentem dor no bico. Com 18 semanas são levadas para as gaiolas de bateria, onde passarão a vida botando ovos para fazer o omelete e o bolo que os restaurantes servem, que as pessoas fazem. Quando estiverem muito machucadas, doentes ou pararem de dar lucro são vendidas aos funcionários do lugar por um real, um real e dez dependendo da quantidade. Ali, esse é o preço da vida. Elas provavelmente viram canja ou ensopado, se é que resta alguma carne naquele corpo tão socado. As que não são compradas esperam por um dia pré-definido, em que um caminhão vem buscá-las. Os funcionários não sabem o que acontece com elas.
A granja adquire os animais de um fornecedor em São Paulo. A viajem de mais de 10 horas é feita em um caminhão transportador. Esteja frio ou calor, elas vêm amontoadas às centenas sem água ou comida, vulneráveis ao sol, ao frio e ao vento. Os que chegam machos são mortos.
Na colheta dos ovos, feita diariamente, os trabalhadores são obrigados a contabilizar cada gaiola, inclusive ovos quebrados. O objetivo é ter controle das gaiolas que precisam de substituição.
Os ovos são lavados e embalados em caixinhas de papelão bonitinhas com desenhos coloridos. Essas caixas chegam aos supermercados e o consumidor paga para levar o ingrediente extra do almoço, o ingrediente totalmente dispensável. Esse dinheiro passa pela mão do operador do caixa, e é usado para comprar mais ovos, que vão dar dinheiro a um galego que nunca aperece na granja, para que ele compre mais galinhas de São Paulo e possa pagar a reforma da mansão na praia em que mora.
O ciclo não se fecha. Não se fecha mas pode fechar. O consumidor é o ponto mais pesado da balança, é com o dinheiro que passa para o operador do supermercado que o negócio continua. O ciclo pode se fechar se as notas continuarem na carteira na hora de passar no caixa. Ou a caixa de papelão na prateleira. Do contrário, a vida das galinhas não muda. Elas continuam presas nesse exato momento. Quem tiver coragem que vá conferir pessoalmente. Chega e entra, olha, vê. Ouve... e muda!
Sai de manhã, passei por três agropecuárias perguntando a procedência das galinhas. Descobri a Granja Áurea. Peguei estradas rurais e cheguei em um chão pisado de terra. Não consegui contar o número de galpões, apesar de estarem bem perto, pois quando pensava que eram tantos, outros tantos apereciam atrás. O carro parou no estacionamento de entrada. Abri a porta e desci, sem nem falar com ninguém, e fui entrando.
Te atinge os ouvidos e o nariz antes que tu te dê conta. O cheiro é podre, é forte. O barulho, o baraulho não sei descrever. Um som que vem de dentro do peito, nasalado, repetitivo. Vindo de milhares, milhares e não estou exagerando, de galinhas. Elas estão presas em linhas de gaiolas que se perdem da vista, em três andares de linhas, o que significa que as da linha de cima defecam nas das linhas de baixo. As gaiolas ficam expostas ao frio, ao vento, e à chuva, com apenas um telhado alto. Cada gaiola tem dois palmos de largura e dois palmos e meio de comprimento. Cada gaiola confina cinco galinhas. É uma folha de papel A4.
Quando uma ergue uma pata ou mexe a cabeça, todas as outras precisam se mover também. Elas não tem espaço para sentar nem se virar, ficam com as cabeças enfiadas na grade mexendo compulsivamente para frente e para trás. Deitar ou descansar as pernas é inimaginável, seus pés ficam pendendo de um chão de grades de ferro lotadas de esterco endurecido. As unhas chegam a abraçar a grade, tão grandes que ficam da falta do comportamento mais natural das galinhas: ciscar.
Elas têm os bicos cortados com 13 semanas de idade numa chapa quente, para evitar que matem umas às outras. Sim, elas sentem dor no bico. Com 18 semanas são levadas para as gaiolas de bateria, onde passarão a vida botando ovos para fazer o omelete e o bolo que os restaurantes servem, que as pessoas fazem. Quando estiverem muito machucadas, doentes ou pararem de dar lucro são vendidas aos funcionários do lugar por um real, um real e dez dependendo da quantidade. Ali, esse é o preço da vida. Elas provavelmente viram canja ou ensopado, se é que resta alguma carne naquele corpo tão socado. As que não são compradas esperam por um dia pré-definido, em que um caminhão vem buscá-las. Os funcionários não sabem o que acontece com elas.
A granja adquire os animais de um fornecedor em São Paulo. A viajem de mais de 10 horas é feita em um caminhão transportador. Esteja frio ou calor, elas vêm amontoadas às centenas sem água ou comida, vulneráveis ao sol, ao frio e ao vento. Os que chegam machos são mortos.
Na colheta dos ovos, feita diariamente, os trabalhadores são obrigados a contabilizar cada gaiola, inclusive ovos quebrados. O objetivo é ter controle das gaiolas que precisam de substituição.
Os ovos são lavados e embalados em caixinhas de papelão bonitinhas com desenhos coloridos. Essas caixas chegam aos supermercados e o consumidor paga para levar o ingrediente extra do almoço, o ingrediente totalmente dispensável. Esse dinheiro passa pela mão do operador do caixa, e é usado para comprar mais ovos, que vão dar dinheiro a um galego que nunca aperece na granja, para que ele compre mais galinhas de São Paulo e possa pagar a reforma da mansão na praia em que mora.
O ciclo não se fecha. Não se fecha mas pode fechar. O consumidor é o ponto mais pesado da balança, é com o dinheiro que passa para o operador do supermercado que o negócio continua. O ciclo pode se fechar se as notas continuarem na carteira na hora de passar no caixa. Ou a caixa de papelão na prateleira. Do contrário, a vida das galinhas não muda. Elas continuam presas nesse exato momento. Quem tiver coragem que vá conferir pessoalmente. Chega e entra, olha, vê. Ouve... e muda!
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