5 de novembro de 2010.
Nasci em um mundo que não compreendo... lotado de pessoas que não compreendo. Entre quatro paredes de concreto cinzento, abri os olhos. Estava escuro. Uma mão forte me pegou pelas costas. Os gritos de minha mãe eram altos, desesperados, mas as mão que me seguravam pareciam não entender nosso idioma. Ou éramos simplesmente ignorados. Fui prensado contra uma mesa de metal, uma luz pálida ofuscava minha visão de bebê. Injetaram-me algo na veia, senti as forças deixarem meu corpo. Acordei tremendo, uma dor insuportável atravessando minha espinha, minha cabeça. Tentei esquivar-me, mas meus músculos não obedeciam, a língua pendia para o canto da boca. Tentava a todo custo dobrar as mãos, mexer as pernas e correr dali... mas nada obedecia. Meu corpo jogado, caído mole, em cima da mesma mesa de metal. Colocavam algo na minha cabeça. Resmungavam qualquer coisa, eu entendia as palavras, mas não o significado. Era apenas um bebê. O pavor e o desespero fizeram todo meu sangue correr rápido pelo corpo, eu tremia, tremia involuntáriamente tentando contrair os músculos. A vista escureu aos poucos, a luz pálida embaçou-se até apagar por completo. Acordei trancado em uma solitária com paredes de acrílico transparente. Custei a entender que o que eu ouvia eram gritos. Urros de dor, de medo. E então o silêncio...
Algo pesava na minha cabeça, causava uma dor bem funda no crânio, a sensação, o ardor, sentimentos tão agonizantes que não achei serem posssíveis de existir. Eu era apenas um bebê. Queria minha mãe, seu colo acolhedor, fechar os olhos e fugir desse pesadelo. Não, não era pesadelo. Era real. A dor bateu forte, na base do crânio. A imagem de minha mãe foi arrancada de minha mente. Uma de minhas pernas começou a tremer, tremia em círculos, senti-a queimar, cansar, tentei pará-la, tentei até a respiração ficar difícil. Outra pontada de dor.
5 de novembro de 2010. Eu sou um dos bilhões de ratos que nasceu no lugar errado. Não, não é pesadelo. É real. Estou trancado em um laboratório de não sei o que, não sei onde e muito menos por quê. A luz pálida mostra silhuetas medonhas se aproximando. Vejo o brilho do metal, o bisturi que vai cortar alguma parte de meu corpo fora, a agulha que vai mergulhar fundo nos meus ossos. Fecho os olhos, o movimento dói. Tento fazer a mente correr dali. Tento morrer. Uma pontada na base do crânio. Não, ainda não, meu suplício está longe do fim.
5 de novembro de 2010.
E enquanto você senta confortavelmente num colchão, num sofá, eu tenho metais e fios elétricos enfiados no cérebro.
Enquanto você dorme, eu tento fechar os olhos sem desmaiar com a dor.
Por quê? Por quê eu e não tu? O que temos de tão diferente? Maldito corpo, por quê nasci um maldito rato? Por que ninguém está se importando? Por que ninguém faz nada?
Eu queria viver. Hoje sei que não posso mais.
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